


Yoga como espaço de presença, não de disputa.
O yoga é muito mais do que posturas ou flexibilidade. É um caminho de união entre corpo, mente e espírito, que nos ensina a estar plenamente presentes. Não se trata de competir, mas de sentir, observar e aceitar. Cada praticante é único — com o seu corpo, a sua história e as suas próprias fases — e é justamente essa singularidade que torna a prática tão pessoal e transformadora.
Nas aulas de yoga que facilito na ilha de São Miguel, procuro criar um espaço seguro onde todos se sintam à vontade para praticar ao seu ritmo, com respeito e compaixão por si mesmos, pois não há exigência de performance.
Dois princípios fundamentais sustentam esta forma de estar: Ahimsa e Santosha. Ahimsa, a não-violência, aplica-se tanto ao modo como tratamos os outros como à forma como lidamos connosco mesmos. Praticar Ahimsa é respeitar os nossos limites, ouvir o corpo com atenção e não ultrapassar o que ele pode oferecer com conforto.
Santosha, o contentamento, refere-se à capacidade de encontrar paz com o que temos e com quem somos no momento. Viver Santosha é cultivar gratidão, mesmo quando surgem desafios — libertando-nos da ideia de que precisamos constantemente de melhorar ou conquistar algo. Em vez disso, reconhecemos o valor do que já somos e do caminho que temos vindo a trilhar.
A prática de yoga convida-nos à auto-observação: sentir o corpo, perceber a respiração e acolher o que emerge — emoções, pensamentos, sensações. É um espaço de escuta interior, onde o julgamento perde força e a comparação deixa de fazer sentido. Quando deixamos de competir e começamos a aceitar quem somos, criamos espaço para viver com mais liberdade e autenticidade.
A comparação, mesmo subtil, afasta-nos dessa escuta e da ligação ao momento tal como ele é. Quando damos por nós a competir, dentro ou fora do tapete, caímos na armadilha da validação externa e perdemos o contacto com quem realmente somos. Além disso, desperdiçamos uma enorme quantidade de energia ao focarmo-nos nos outros, em vez de a canalizarmos para o nosso próprio crescimento e bem-estar. O yoga ajuda-nos a reconhecer esse padrão e a cultivar um olhar mais compassivo e enraizado.
Para que o yoga seja realmente transformador, é essencial integrá-lo para além da dimensão física. Princípios como Ahimsa e Santosha não são apenas conceitos para aplicar durante a prática; são atitudes vivas, que moldam a forma como nos relacionamos com o mundo, com os outros e conosco próprios.
Yoga vs competição é, no fundo, uma escolha: entre viver em função do olhar dos outros ou viver em harmonia com o que somos. No tapete e na vida, que possamos escolher praticar com leveza, consciência e verdade.